terça-feira, 29 de maio de 2012

(Me) As Chamas


Quatro velas estavam queimando calmamente. O ambiente estava tão silencioso que se podia ouvir o diálogo entre elas.


A primeira, expandindo sua chama, disse:

-Eu sou a Paz. Peregrina pelas estradas do sentimento buscando morada no coração dos homens. Viajo pelos campos devastados pelas guerras e canto a minha canção aos ouvido dos que ainda persistem nas batalhas cruéis. Penetro nos lares e espalho o perfume da minha presença. Devo admitir que, apesar da minha luz, as pessoas não têm conseguido me manter acesa. E, diminuindo sua chama, devagarzinho, apagou-se totalmente.

A segunda, mostrando o colorido da sua chama, falou:

-Eu me chamo Fé. Tenho me sentido inútil entre os homens. Eles se encontram cheios de tanta tecnologia e conquistas, que não me escutam. Não querem saber das verdades espirituais. Insistentemente, tenho batido às portas da razão humana, demonstrando que, sem minha luz, logo, logo cairão em trevas densas e sofridas. Porque eu sou a chama que se apresenta quando o desengano aparece. Sou a luz que brilha na noite da desilusão. Sou a companheira dos que padecem males sem conta. Mas, como tenho sido desprezada, não faz sentido eu continuar acesa. Ao terminar sua fala, um vento bateu levemente sobre ela e ela se apagou.

Baixinho e triste, a terceira se manifestou:

-Eu sou o Amor! Não tenho mais forças para queimar. As pessoas me deixam de lado, porque tudo é mais importante do que eu: a carreira, os prazeres, as coisas materiais. Os homens só conseguem enxergar a si próprios, esquecendo-se até dos que estão à sua volta. Dito isto, o Amor recolheu a sua chama e se apagou.

De repente, entrou uma criança, olhou as três velas apagadas e falou, espontaneamente:

-O que é isso? Vocês devem ficar acesas e queimar até o fim!

Foi daí que a quarta vela, que havia permanecido acesa, sem nada dizer, falou:

-Não tenha medo, criança. Nem se preocupe. Enquanto a minha chama estiver acesa, podemos acender as outras velas.

A criança apanhou a vela da Esperança e acendeu novamente as velas da Paz, da Fé e do Amor.

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