segunda-feira, 14 de março de 2011

(R) Impacto do analfabetismo, por Fábio Arruda Mortara *

A despeito dos avanços verificados nas duas últimas décadas, o ensino, em especial no tocante às escolas públicas, segue abaixo de um padrão de excelência congruente com a meta nacional de desenvolvimento. O problema está muito evidente no Anuário Estatístico 2010 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), que acaba de ser divulgado. O estudo desse organismo das Nações Unidas mostra que a proporção de pessoas analfabetas no Brasil é de 9,6%, acima da média de 8,3% registrada na região.

Para se compreender de maneira mais clara a gravidade da situação, é importante cruzar os seus dados com informações da pirâmide demográfica nacional e alguns números do mercado da cadeia produtiva da comunicação gráfica. Com base na população atual de 190.732.694, os maiores de 15 anos (cerca de 89% do total, segundo o Censo 2010 do IBGE) são 169,75 milhões. Se 9,6% desses não sabem ler e escrever, o número de alijados desse direito essencial é de 16,3 milhões.

Numericamente, os contingentes representados pelos brasileiros analfabetos são equivalentes à população do Chile ou da Holanda. Assim, incluí-los no mercado de consumo de todos os bens, produtos e serviços ao alcance de quem sabe ler e escrever significaria criar no Brasil um mercado do tamanho do existente naqueles dois países. Na ponta da produção, o gargalo do ensino também apresenta consequências danosas, considerando o apagão de mão de obra, explicitado por vários setores de atividade.

O flagelo do analfabetismo e a escolaridade de baixa qualidade transcendem a questão social da exclusão, já suficientemente grave. É um problema a ser enfrentado com firmeza e eficácia pelas prefeituras, estados e União, constitucionalmente responsáveis pela educação pública. A sociedade também precisa atuar no âmbito dessa meta.
* Empresário, presidente da Associação Brasileira da Indústria Gráfica (Abigraf)

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