segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Pedro

Ele quase não viu a senhora, com o carro parado no acostamento. Mas percebeu que ela precisava de ajuda. Parou e aproximou. O carro dela cheirava a tinta, de tão novo!
Mesmo com o sorriso que ele estampava na face, ela ficou preocupada. Ninguém tinha parado para ajudar durante a última hora. Ele iria aprontar alguma? Parecia pobre e faminto.
Ele percebeu que ela estava com muito medo e disse:
- Eu estou aqui para ajudar, madame. Por que não espera no carro onde está quentinho? A propósito, meu nome é Pedro.
Bem, tudo que ela tinha era um pneu furado, mas para uma senhora era muito. Pedro abaixou-se, colocou o macaco e levantou o carro. Logo já estava trocando o pneu. Ele ficou um tanto sujo e ainda feriu uma das mãos. Enquanto ele apertava as porcas da roda ela abriu a janela e começou a conversar com ele. Contou que era de uma cidade grande e só estava de passagem por ali e que não sabia como agradecer pela preciosa ajuda. Pedro sorriu enquanto se levantava.
Ela perguntou quanto devia. Qualquer quantia teria sido muito pouco para ela, pois já tinha imaginado todos as terríveis coisas que poderiam ter acontecido se Pedro não tivesse parado.
Pedro não pensava em dinheiro. Aquilo não era seu trabalho, mas gostava de ajudar quando alguém necessitava. Este era seu modo de viver e nunca lhe ocorreu agir de outra maneira. Ele respondeu:
- Se realmente quiser me reembolsar, da próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, dê para aquela pessoa a ajuda que ela precisar. E acrescentou: E pense em mim.
Ele esperou até que ela saísse com o carro e se foi. Tinha sido um dia frio e triste, mas ele se sentia bem.
Alguns quilômetros abaixo, a senhora parou num pequeno restaurante. Ela entrou para comer alguma coisa. Era um restaurante simples. A garçonete veio até ela e trouxe-lhe uma toalha limpa para que pudesse esfregar e secar o cabelo molhado de chuva, e lhe sorriu, um sorriso ameno, apesar do dia cansativo e da dor que sentia nos pés. A senhora notou que a garçonete estava em estado avançado de gravidez, e mesmo assim não demonstrava tensão nem deixou que as dores mudassem seu comportamento. A senhora ficou curiosa em saber como alguém que tinha tão pouco, podia tratar tão bem a uma estranha. E se lembrou de Pedro.
Depois que terminou a refeição, enquanto a garçonete buscava troco para a nota de cem, a senhora se retirou. Já tinha partido quando a garçonete voltou. A garçonete ainda pensava onde estaria a senhora, quando notou algo escrito no guardanapo, sob o qual tinha mais quatro notas de R$100,00:
"Você não precisa se preocupar com o troco, nem com o dinheiro que deixo. Alguém me ajudou uma vez e da mesma forma estou lhe ajudando. Se você realmente quiser me reembolsar não deixe este círculo de amor terminar com você". Lágrimas escorreram de seus olhos.
Aquela noite, quando foi para casa e deitou-se na cama, ficou pensando no dinheiro e no que a senhora deixou escrito. Como pôde aquela senhora saber o quanto ela e o marido precisavam daquele dinheiro? Com o bebê para o próximo mês, como estava difícil! Ela virou-se para o marido, que dormia ao lado, deu-lhe um beijo e sussurrou:

- Tudo ficará bem; eu te amo, Pedro.

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